Em Mato Grosso do Sul, esses confrontos envolvem principalmente o povo Guarani Kaiowá
Por Ângela Kempfer | 11/12/2025 09:43
A violência no campo brasileiro permanece uma realidade persistente e alarmante, com um número crescente de conflitos agrários, muitas vezes associados a disputas por terra e recursos naturais. Dados recém-divulgados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) indicam que, entre 1985 e 2023, foram registrados mais de 50.950 conflitos no campo, com destaque para as disputas por terras (41,1 mil casos) e conflitos trabalhistas, como trabalho escravo, com 4,3 mil ocorrências.
A violência no campo brasileiro continua alarmante, com mais de 50.950 conflitos registrados entre 1985 e 2023, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra. As disputas por terra representam a maioria dos casos, com 41,1 mil ocorrências, seguidas por conflitos trabalhistas, incluindo trabalho escravo.A concentração fundiária é apontada como principal causa da violência rural, com apenas 1,4% dos imóveis rurais controlando 61% das terras. O CNJ destaca que ações de despejo e reintegração de posse representam 30% das mediações nos tribunais de conflitos agrários, evidenciando a necessidade de políticas públicas mais efetivas.
Em Mato Grosso do Sul, esses conflitos envolvem principalmente o povo Guarani Kaiowá contra fazendeiros, com disputas por terras indígenas demarcadas, mas não homologadas, resultando em violência, assassinatos, retomadas de áreas e graves impactos socioambientais, como uso de agrotóxicos, como o que desencadeou ocupação de fazenda e confronto com a polícia em Caarapó neste ano.
Além disso, ações de despejo e reintegração de posse têm gerado aumento da violência no campo. De acordo com o relatório, essas ações, que envolvem confrontos diretos entre trabalhadores rurais e forças de segurança, representam 30% das demandas de mediação nos tribunais de conflitos agrários. O uso de forças públicas e privadas tem potencializado as tensões e aumentado o número de vítimas.
Os dados são parte do esforço contínuo da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) para enfrentar a impunidade estrutural relacionada à violência contra defensores de direitos humanos, como o caso de Gabriel Sales Pimenta, advogado sindicalista morto em 1982. A Corte IDH reconheceu a violência sistemática no campo brasileiro, especialmente contra os defensores de direitos humanos dos trabalhadores rurais, que frequentemente enfrentam ameaças, agressões e até assassinatos.
A relação entre concentração de terras, violência e impunidade segue como um ciclo vicioso no Brasil, onde os grandes proprietários de terras mantêm sua hegemonia econômica e política, muitas vezes com a colaboração do Estado. Esse cenário é alimentado por uma cultura institucional que ignora a função social da terra e perpetua o modelo de exploração, deixando os trabalhadores rurais vulneráveis à violência e à criminalização de suas lutas por direitos.
No relatório, o CNJ reforça que a violência agrária, que vem se agravando nos últimos anos, é uma clara violação dos direitos humanos. “O governo brasileiro, juntamente com organizações internacionais e civis, enfrenta um desafio crescente para enfrentar essa impunidade estrutural e garantir a proteção e os direitos dos trabalhadores rurais, especialmente em um contexto de novas fronteiras agrícolas e aumento do poder corporativo nas regiões mais afetadas”.
FONTESource link

